A pós-modernidade tem sido cada vez mais discutida, seja em seu âmago,
seja em suas conseqüências, pelas ciências sociais. Diante de diversas
discussões busca-se, neste trabalho, levantar reflexões da Geografia ao
que Harvey (1999) denomina "Condição Pós-Moderna", através de análise
das principais e mais influentes bibliografias que tratam desta questão,
como também trabalhos geográficos, visando contribuir para o estudo das
recentes e novas espacialidades e conseqüências sociais diversificadas.
No mundo contemporâneo vivemos uma nova realidade no espaço cultural,
político e intelectual, ou apenas nos adaptamos às pequenas e constantes
evoluções em nosso cotidiano. Independentemente da resposta a esta
questão central, estes "novos tempos" trouxeram novos debates na ciência
e, conseqüentemente, o acompanhamento e a contribuição dessa discussão
pela Geografia.
Esta nova realidade que se coloca, considerada como a era da
pós-modernidade, deve ter suas noções compreendidas na própria
modernidade, uma vez que, até pela semântica, percebemos que uma teria
relações temporais e/ou evolutivas a partir da outra. Faz-se importante,
portanto, retratar as principais controvérsias deste período, que
conforme Gomes (2007, p.53) é fundado pelas mudanças que se manifestaram
no término do séc. XVII e no decorrer do séc. XVIII, correlacionadas ao
iluminismo na Europa. Tais mudanças proporcionam influência mundial no
século XX em diante, estabelecendo seu entrelaçamento com a construção e
evolução do pensamento geográfico.
O que desencadeia, desde o definir ou o procurar entender o que vem a
ser a modernidade, em complexos debates que permeiam afirmar a
contemporaneidade como uma possível "pós-modernidade" ou não em um mundo
conturbado e metamorfoziado.
As crises da modernidade são às crises do capitalismo e questionadas
pelos movimentos contraculturais e antimodernistas a partir dos anos 60,
são a cerne do pós-modernismo. Harvey (1999, p.9) afirma em sua obra
Condição Pós-Moderna, examinar de forma simplificada os fundamentos
político-econômicos, aprofundando depois a respeito da "experiência do
espaço e do tempo como vínculo mediador singularmente importante entre o
dinamismo do desenvolvimento histórico-geográfico do capitalismo e
complexos processos de produção cultural e transformação ideológica" que
culminam na condição pós-moderna.
Não é nosso objetivo aqui esgotar estas complexas questões, mas ao
contrário, dar início a um debate ainda pouco difundido entre estudantes
de Geografia, tentando, através da síntese e análise, trazer para a
linguagem e o cotidiano dos nossos futuros alunos, uma possibilidade de
contato, visando desenvolver a curiosidade, e despertar (quem sabe?)
futuros pesquisadores e epistemólogos da pós-modernidade e suas novas
espacialidades.
A PÓS-MODERNIDADE E A GEOGRAFIA.
Existe muita discussão a respeito da pós-modernidade na ciência, e na
própria geografia, sendo várias correntes de discussão e tendências que
procuram delimitar o debate pós-moderno, no que tange a relação dos
conceitos pós-modernos na geografia, é possível detectar uma mudança
grotesca nas práticas culturais e político-econômicas desde 1972, e esta
mudança está "... vinculada à emergência de novas maneiras dominantes
pelas quais experimentamos o tempo e o espaço" (HARVEY,1999, p.7).
Portanto, enxerga-se este período do pós-modernismo como um período de
transformações culturais.
Ocasionada diante da transformação político-econômica do capitalismo a
partir do final do século XX, esta mudança ganha expressão na
arquitetura e nos projetos urbanos das cidades, na transformação do
fordismo para a acumulação flexível, e na compressão do tempo-espaço que
formam a condição pós-moderna. Consideramos muito relevante a descrição
de Harvey a respeito da passagem da modernidade à pós-modernidade
quando analisa o pós-modernismo:
Começo com o que parece ser o fato mais espantoso sobre o
pós-modernismo: sua total aceitação do efêmero, do fragmentário, do
descontínuo e do caótico que formavam uma metade do conceito
baudelairiano de modernidade. Mas o pós-modernismo responde a isso de
uma maneira bem particular; ele não tenta transcendê-lo, opor-se a ele e
sequer definir os elementos. O pós-modernismo nada, e até se espoja,
nas fragmentárias e caóticas correntes da mudança, como se isso fosse
tudo o que existisse (HARVEY, 1999, p.49).
Assim, podemos dizer que as crises e rupturas das correntes modernas são
a origem e a sustentação do que vem a ser a pós-modernidade, a cerne do
pensamento filosófico pós-modernista está em abandonar por inteiro o
projeto do Iluminismo em defesa da emancipação humana, tendo no
individualismo sua maior ação.
Percebe-se nestes debates o entrelaçamento da Geografia com a ordem no
mundo, seja através da ciência, da sociedade ou pelas diversas
manifestações da mesma. O que caracteriza a importância dos debates para
a evolução do pensamento geográfico e demonstra, afinal que a ciência
geográfica está viva, seja em momento de crise da ciência ou renovação
da mesma. As controvérsias colaboram assim, para análises
epistemológicas que motivam a avanços no pensamento, e enfim, a
superação.
Portanto, enxerga-se este período do pós-modernismo como um período de
transformações culturais. Por se tratar de uma situação contemporânea,
presente, não é fácil elaborar uma visão crítica da pós-modernidade, por
esta ainda não ser uma condição histórico-geográfica. Sendo assim,
consideram-se de extrema importância os trabalhos que venham a
confrontar e elucidar os diversos posicionamentos frente à
pós-modernidade e, em especial, compreender como esta nova realidade
pode influenciar e ser influenciada pelo pensamento geográfico
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOMES, Paulo César da Costa. Geografia da Modernidade. 6ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
HARVEY, David. Condição pós-moderna. 8ª ed. São Paulo: Loyola, 1999.
SALVI, Rosana Figueiredo. A Questão Pós-Moderna e a Geografia. Geografia. Londrina, v. 9, nº.2, p. 95-111, jul./dez., 2000.
SPOSITO, Eliseu Silvério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: UNESP, 2004.