Os autores Ianni, Guiddens e Santos, mostram
a globalização em contextos de caráter semelhantes, já que esta se encontra
presente na realidade e no pensamento de todos os indivíduos, desafiando a
muitos em todo o mundo, visto que o mundo é o que se vê de onde se está.
É
possível dividir a globalização em três etapas, sendo a primeira conhecida como
a “globalização do colonialismo”, sendo fortemente marcada pela ocupação
territorial; a segunda fase é a da fragmentação dos territórios, obtendo
destaque no final do século XX; e finalmente, a “globalização do século XX”,
popularmente conhecido como o período das revoluções tecnológicas, fator que
marcou profundamente o desenvolvimento da globalização nos dias contemporâneos.
Para
Ianni, a globalização é um fator que desafia a muitos, pois apesar das
vivências e opiniões de uns e outros, a maioria da população reconhece que este
fenômeno é uma problemática que está presente na sociedade atual, mediante a
forma em que se desenha o novo mapa do mundo, tanto na realidade quanto no
imaginário de cada cidadão.
Assim,
os horizontes que se abrem com a globalização, em termos de integração e
fragmentação, podem abrir novas perspectivas para a interpretação do presente,
a releitura do passado e a imaginação do futuro.
As
ideias de Ianni colocam em evidência algumas metáforas que são produzidas pela
reflexão e imaginação desafiadas pela globalização. O autor salienta que com a
globalização, o mundo começou a ser conhecido de várias formas, como: “aldeia global”, “fabrica global”, “cidade
global”, “nave espacial”, “nova babel”, dentre algumas outras
expressões. Para o autor, essas são metáforas razoavelmente originais,
utilizadas para descobrir as transformações do final do século XX.
A
partir dessas ideias, Ianni conceitua a globalização como sendo uma economia-mundo,
sistema-mundo, onde todas as relações sociais, políticas, culturais, econômicas
estão interligadas umas com as outras.
À
medida em que se desenvolve o texto, segue-se alguns conceitos chaves de cada
uma das metáforas elucidadas por Ianni, descritas a seguir.
A aldeia global vem mostrar que
finalmente formou-se uma comunidade mundial, concretizada nas realizações e nas
possibilidades de comunicação, informação e confabulação abertas pela eletrônica.
Essa metáfora sugere que está em curso a harmonização e a homogeneização
progressivas. Ela se baseia principalmente na convicção de que a organização, o
funcionamento e a mudança da vida social, em sentido amplo, compreende
evidentemente a globalização, estão ocasionados pela técnica e, neste caso,
também pela eletrônica. Assim, conclui o autor, em pouco tempo, as províncias,
nações e regiões, assim com as culturas e civilizações, são permeadas e
articuladas pelos sistemas de informação, comunicação e confabulação agilizados
pela eletrônica.
É
possível identificar ainda na aldeia global, além dos bens convencionais nas
formas antigas e atuais, se embalam e se vendem as informações. Se fabricam
informações como bens Estas são fabricadas e comercializadas em escala mundial.
Concluindo-se que a aldeia global implica a ideia de comunidade global, mundo
sem fronteiras.
Já
a fábrica global sugere uma
transformação quantitativa e qualitativa do capitalismo, mais além de todas as
fronteiras e subsumindo formal ou realmente todas as outras formas de organização
social e técnica do trabalho e da reprodução ampliada do capital. Nessa
metáfora, toda economia nacional, seja qual for, se volta província da economia
global. Assim, o mercado, as forças produtivas, a nova divisão internacional do
trabalho, a reprodução ampliada do capital, se desenvolvem em escala mundial.
Partindo
desse pressuposto, é possível salientar que a fábrica global se instala além de
qualquer fronteira, articulando capital, tecnologia, força de trabalho, divisão
do trabalho social e outras forças produtivas. Dessa forma, acompanhada pela
publicidade, pelos meios impressos e pela eletrônica, a indústria cultural,
mesclada em periódicos, revistas, livros, programas de radio, redes de
computadores e outros meios de comunicação e informação dissolvendo fronteiras,
agiliza os mercados e generaliza o consumismo.
Finalmente,
Ianni salienta que a fábrica global é tanto uma metáfora como também uma
realidade, haja visto que a realidade da fábrica da sociedade global, é
altamente determinada pelas exigências da reprodução ampliada do capital.
Uma
terceira metáfora apresentada por Ianni, diz respeito à “nave espacial”, esta sugere uma viagem entre o conhecido e o
desconhecido. Dessa forma, a metáfora da nave espacial pode muito bem ser um emblema
de como a modernidade se desenvolve ao longo do século XX, preanunciando o XXI.
Leva consigo a dimensão pessimista introduzida na utopia-nostalgia escondida na
modernidade. Foi neste período que a máquina expulsou o maquinista. De acordo
com Ianni, a decadência do indivíduo, é uma conotação surpreendente da
modernidade em épocas de globalização. A partir das ideias do autor nessa
metáfora, identifica-se que a tecnicidade das relações sociais, em todos os
níveis, se universaliza, tornando-se relações técnicas, sem muito contato
pessoal.
O
autor enfatiza ainda que por trás da metáfora da nave espacial, se esconde a da
“torre de babel”. A nave pode ser
babélica, pois traz consigo um espaço caótico, tão babélico que os indivíduos,
singular e coletivamente, têm dificuldade para compreender que estão
extraviados, em decadência, sujeitos à dissolução, visto que no início, tudo
estava em ordem na torre de babel, e ao final, tudo se confunde, se
individualiza.
De
acordo com Ianni, a babel escondida na nave espacial pode revelar ainda mais
claramente o que há de mais trágico na maneira em que se dá a globalização,
criando economias desiguais, cidadãos subjugando-se mais imponentes que outros,
etc.
De
repente, nessa nave espacial, uma espécie de babel-teatro-mundo, se instala um patético
surpreendente e fascinante. Arrasta a uns e outros em uma travessia sem fim,
com destino incerto, que corre o risco de seguir pelo infinito.
Vistas
assim, como emblemas da globalização, as metáforas se voltam traços
fundamentais das configurações e dos movimentos da sociedade global. Para o
autor, talvez se possa dizer que as metáforas produzidas nos horizontes da
globalização entram em diálogo umas com as outras para explicar o real sentido
da globalização nos dias contemporâneos. Afirma-se ainda, que a sociedade
global é o novo objeto de estudo das ciências sociais.
E
finalmente, conclui o autor, com duas ideias-conceitos centrais da
globalização, evidenciados a seguir: “A globalização pode ser definida como a
intensificação das relações sociais em escala mundial que ligam localidades
distantes de tal maneira que os acontecimentos de cada lugar são modelados por
eventos que ocorrem a muitas milhas de distancia e vice-versa”. Assim, a
transformação local é tanto uma parte da globalização quanto a extensão lateral
das conexões sociais por meio do tempo e do espaço. O segundo conceito-chave de
globalização evidencia que “a globalização se refere a todos os processo por
meio dos quais os povos do mundo são incorporados a uma única sociedade mundial,
a sociedade global. Globalismo é uma das forças que atuam no desenvolvimento da
globalização”. (IANNI, 1996).
Já
no texto de Guiddens, o autor afirma que a modernidade é intrinsecamente
globalizadora. Para este, a mundialização se refere principalmente ao processo
de alargamento dos métodos de conexão entre diferentes contextos sociais ou
regionais que se convertem em uma rede ao longo de toda a superfície da terra.
Paradoxalmente
ao autor Ianni, Guiddens afirma que a mundialização pode, portanto, definir-se
como a intensificação das relações sociais em todo o mundo, de tal maneira que
os acontecimentos locais estão configurados por acontecimentos que ocorrem a
muitos quilômetros de distância ou vice-versa. Assim, a transformação local é
parte da mundialização e da extensão lateral das conexões através do tempo e do
espaço.
O
autor menciona ainda que ao mesmo tempo que as relações sociais se estendem
lateralmente, e como parte do mesmo processo, pode-se observar a intensificação
das pressões que reivindicam a autonomia local e a identidade cultural
regional, já que a mundialização é também a influencias de processos desiguais
de desenvolvimento.
Guiddens
cita ainda uma possível divisão do sistema mundial moderno, dividindo-se em
três componentes: o núcleo, a semiperiferia e a periferia, ainda que o lugar em
que cada um deles se situa varia com o tempo. Ao final do século XX, quando
praticamente se tem desaparecido o colonialismo em sua forma original, a
economia capitalista mundial continua implicando diretamente os enormes
desequilíbrios existentes entre o núcleo, a semiperiferia e a periferia.
Desta
maneira, Guiddens universaliza quatro dimensões da globalização, sendo:
Economia capitalista mundial; Sistema de estado nacional; Ordem militar
mundial; e Divisão Internacional do Trabalho. Estas dimensões estão diretamente
ligadas ao desenvolvimento industrial do planeta iniciado a partir do final do
século XX.
O
autor enfatiza que uma das principais características das implicações
globalizantes da industrialização é a difusão mundial da maquinaria tecnológica.
O impacto do industrialismo não está simplesmente limitado à esfera da
produção, mas afeta muitos aspectos da vida cotidiana e exerce também uma
decisiva influencia sobre o caráter genérico da interação humana com o entorno
material.
Finalmente
Guiddens conclui: as tecnologias mecanizadas da comunicação tem influenciado
profundamente em todos os aspectos da mundialização desde a introdução da
imprensa na Europa, e forma uma elemento essencial de reflexão da modernidade e
das descontinuidades que tem arrancado o mundo moderno do tradicional. (GUIDDENS,
1990).
Quando
se trata de Santos, ao abordar sobre o tema globalização, este relata que
estamos frente a um fenômeno multifacético, de dimensões econômicas, sociais,
políticas, culturais, religiosas e jurídicas, relacionadas entre si de modo
completo, pois para este, a globalização é um vasto e intenso campo de
conflitos entre grupos sociais, estados e interesses hegemônicos por um lado, e
grupos sociais, estados e interesses subalternos por outro.
Santos
enumera alguns tipos de globalização, como:
A
globalização econômica e o neoliberalismo – onde as
economias nacionais devem abrir-se ao mercado mundial e os preços domésticos
devem adequar-se forçosamente aos preços internacionais. A globalização
econômica é sustentada pelo consenso econômico neoliberal, cujas três principais
inovações institucionais são: as restrições drásticas à regulação estatal da
economia; os novos direitos de propriedade internacional para investimentos
estrangeiros, invenções e criações suscetíveis de entrar dentro da regulação da
propriedade intelectual; a subordinação dos estados nacionais às agencias
multilaterais, tais como o Banco Mundial do Comércio, o Fundo Monetário
Internacional e a Organização Mundial do comércio.
A
globalização social e as desigualdades – onde o sistema
mundial tem sido sempre estruturado como um sistema de classes, onde hoje está
emergindo uma classe capitalista transnacional. Seu campo de reprodução social
é o globo, o qual sobrepassa facilmente as organizações nacionais de
trabalhadores, criando sociedades economicamente desiguais. No campo da
globalização social, o consenso liberal diz que o crescimento e a estabilidade
econômica se fundamentam na redução dos custos salariais.
A
globalização política e o estado-nação – o estado-nação
parece haver perdido seu centralismo tradicional como unidade privilegiada de
iniciativa econômica, social e política. A intensificação de interações que
transcendem as fronteiras e as práticas transnacionais afetam a capacidade do
estado-nação para conduzir ou controlar o fluxo de pessoas, de bens, de
capitais ou de ideias, tal como fez no passado.
Santos afirma que outro
tema importante nas análises das dimensões políticas da globalização é o papel
crescente das formas de governo supraestatal.
Há ainda a globalização
cultural, que adquiriu uma especial importância com o chamado giro cultural da
década de oitenta, fazendo com que todas as culturas pudessem interligar-se
umas com as outras, de certa forma, perdendo-se parte da identidade regional de
cada país.
O autor ainda coloca no
texto duas formas de globalização, sendo a primeira conhecida como “localismo globalizado”. Este se define
como o processo pelo qual um determinado fenômeno local é globalizado com êxito.
A segunda forma de globalização se chama “globalismo
localizado”. Se traduz no impacto específico nas condições locais,
produzido pelas práticas transnacionais que se desprendem dos localismos
globalizados.
Finalmente, Santos
conclui, mostrando-nos os graus de intensidade da globalização, primeiramente
conceituando-a como sendo o conjunto de relações sociais que se traduzem na
intensificação das interações transnacionais globais. Partindo daí, o autor
propor dois níveis da mundialização: “globalização
de alta intensidade”, que é aplicada aos processos rápidos, intensos e
relativamente monocasual de globalização, tende a dominar naquelas situações em
que os intercâmbios aparecem muito desiguais e as diferenças de poder são
grandes. E “globalização de baixa
intensidade”, que tende a dominar naquelas situações onde os intercâmbios
são menos desiguais, quando as diferenças de poder entre países, interesses ou
práticas situadas detrás de conceitos alternativos de globalização são pequenos.
SANTOS (2003).
Como visto nos textos
estudados, cada autor tem seu ponto de vista sobre o tema globalização, porém,
ambos sempre convergem para um ponto comum, conceituando-a de formas bem
semelhantes.REFERÊNCIAS
GIDDENS, Anthony. Consecuencias de la modernidad. Alianza Editorial, 1993.
IANNI, Octavio. La sociedad global. s/d
SANTOS, Boaventura de Sousa. La caída del angelus novus: ensayos para una nueva teoría social y una nueva practica politica. s/d.
Autor: Ligiéria Alves dos Santos
Legal seu texto, Ligiéria!
ResponderExcluirPensando na internet, tem um autor que gosto muito, pois ele se refere às Tecnologias da Informação e Comunicação. O nome dele é Manuel Castells.
Abraços.
Muito bom o texto, Ligiéria.
ResponderExcluirAlém do Manuel Castells que o Mário citou acima, tem um que se chama Karl Polanyi e outro, David Harvey. Nesses dois há uma crítica ao termo e as consequências do processo globalizatório, além do próprio Milton Santos.
Bem, Milton fala daquela coisa da mudança de paradigma da sociedade atual, em que agora temos um motor único, o dinheiro. Este fragmenta os territórios, lugar de vida do homem.
Polanyi, fala da grande transformação, aliás, esse é o nome do seu principal livro. Nele, ele parte das revoluções liberais para chegar até aquilo que era o mundo dele, década de 1940, em que a sociedade de se rendia ao mercado. Essa era a maior transformação. Apesar de ser de um tempo diferente, parece que ele teve um pensamento único ao do Milton, o dinheiro começa a dominar a vida da sociedade.
Aí vem Harvey, particularmente é dos que mais gosto. Pois sua análise da globalização começa dizendo que este termo já é uma invenção, já que processos como os associados a isso que chamamos de globalização já tem uma história longa no sistema capitalista, mas que só foi recentemente utilizado para nomear tais processos com vistas a fazer assimilar pelo mundo a fora que esses processos são homogeneizantes, o que pra ele é uma falácia. Daí, ele parte para o que ele chama de Desenvolvimento Geograficamente desigual do modo produção, em que, na verdade, o capitalismo não se faz de forma homogênea como o termo globalização faz crer, junto com seus idealizadores, mas sim de maneira seletiva.
Engraçado é que na análise desses três textos que tu trouxeste, dá para perceber a crítica aos processos da globalização, principalmente em Ianni, que o faz a partir da sua concepção das metáforas. Assim como Harvey faz a partir dessa falácia. Ou que, o mesmo que Giddens faz em torno do que ele chama de 'consequequências da modernidade', que ele traz as características que esta tem, como por exemplo, a confiança nos sistemas, ele carrega os traços que nos atemos no sistema global, e que para ele é passível de crítica.
De fato, suas considerações sobre os autores estão muito boas, elucidadoras para quem estuda o tema, e enriquecedora para quem almeja isso.
Um abraço
Sávio José
Obrigado pelas considerações realizadas acima Sávio. De fato, Castells, Polanyi, Harvey e Milton Santos são autores renomados quando se trata de globalização e modernidade. Aqui só levei em consideração Ianni, Guidens e Santos pelo fato de serem os autores que mais tenho lido nos últimos meses. Para todo bom geógrafo, o tema globalização é alvo de estudos diários, já que a sociedade vem se transformando constantemente ao longo dos anos, e esse fenômeno tem grande parcela de contribuição para as mudanças ocorridas desde o início da revolução industrial até o momento presente.
ResponderExcluirUm abraço,
Ligiéria Alves
achei legal o texto, mas eu não gosto de você, porque meu professor pegou esse texto como base para uma lição, então logo, na terça-feira vou ter que entregar a lição, eu podia estar curtindo meu feriado aqui mas não, estou fazendo lição -;
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