sexta-feira, 3 de agosto de 2012

GLOBALIZAÇAO SEGUNDO IANNI, GIDDENS E SANTOS



             Os autores Ianni, Guiddens e Santos, mostram a globalização em contextos de caráter semelhantes, já que esta se encontra presente na realidade e no pensamento de todos os indivíduos, desafiando a muitos em todo o mundo, visto que o mundo é o que se vê de onde se está.
            É possível dividir a globalização em três etapas, sendo a primeira conhecida como a “globalização do colonialismo”, sendo fortemente marcada pela ocupação territorial; a segunda fase é a da fragmentação dos territórios, obtendo destaque no final do século XX; e finalmente, a “globalização do século XX”, popularmente conhecido como o período das revoluções tecnológicas, fator que marcou profundamente o desenvolvimento da globalização nos dias contemporâneos.
            Para Ianni, a globalização é um fator que desafia a muitos, pois apesar das vivências e opiniões de uns e outros, a maioria da população reconhece que este fenômeno é uma problemática que está presente na sociedade atual, mediante a forma em que se desenha o novo mapa do mundo, tanto na realidade quanto no imaginário de cada cidadão.
            Assim, os horizontes que se abrem com a globalização, em termos de integração e fragmentação, podem abrir novas perspectivas para a interpretação do presente, a releitura do passado e a imaginação do futuro.
            As ideias de Ianni colocam em evidência algumas metáforas que são produzidas pela reflexão e imaginação desafiadas pela globalização. O autor salienta que com a globalização, o mundo começou a ser conhecido de várias formas, como: “aldeia global”, “fabrica global”, “cidade global”, “nave espacial”, “nova babel”, dentre algumas outras expressões. Para o autor, essas são metáforas razoavelmente originais, utilizadas para descobrir as transformações do final do século XX.
            A partir dessas ideias, Ianni conceitua a globalização como sendo uma economia-mundo, sistema-mundo, onde todas as relações sociais, políticas, culturais, econômicas estão interligadas umas com as outras.
            À medida em que se desenvolve o texto, segue-se alguns conceitos chaves de cada uma das metáforas elucidadas por Ianni, descritas a seguir.
            A aldeia global vem mostrar que finalmente formou-se uma comunidade mundial, concretizada nas realizações e nas possibilidades de comunicação, informação e confabulação abertas pela eletrônica. Essa metáfora sugere que está em curso a harmonização e a homogeneização progressivas. Ela se baseia principalmente na convicção de que a organização, o funcionamento e a mudança da vida social, em sentido amplo, compreende evidentemente a globalização, estão ocasionados pela técnica e, neste caso, também pela eletrônica. Assim, conclui o autor, em pouco tempo, as províncias, nações e regiões, assim com as culturas e civilizações, são permeadas e articuladas pelos sistemas de informação, comunicação e confabulação agilizados pela eletrônica.
            É possível identificar ainda na aldeia global, além dos bens convencionais nas formas antigas e atuais, se embalam e se vendem as informações. Se fabricam informações como bens Estas são fabricadas e comercializadas em escala mundial. Concluindo-se que a aldeia global implica a ideia de comunidade global, mundo sem fronteiras.
            Já a fábrica global sugere uma transformação quantitativa e qualitativa do capitalismo, mais além de todas as fronteiras e subsumindo formal ou realmente todas as outras formas de organização social e técnica do trabalho e da reprodução ampliada do capital. Nessa metáfora, toda economia nacional, seja qual for, se volta província da economia global. Assim, o mercado, as forças produtivas, a nova divisão internacional do trabalho, a reprodução ampliada do capital, se desenvolvem em escala mundial.
            Partindo desse pressuposto, é possível salientar que a fábrica global se instala além de qualquer fronteira, articulando capital, tecnologia, força de trabalho, divisão do trabalho social e outras forças produtivas. Dessa forma, acompanhada pela publicidade, pelos meios impressos e pela eletrônica, a indústria cultural, mesclada em periódicos, revistas, livros, programas de radio, redes de computadores e outros meios de comunicação e informação dissolvendo fronteiras, agiliza os mercados e generaliza o consumismo.
            Finalmente, Ianni salienta que a fábrica global é tanto uma metáfora como também uma realidade, haja visto que a realidade da fábrica da sociedade global, é altamente determinada pelas exigências da reprodução ampliada do capital.
            Uma terceira metáfora apresentada por Ianni, diz respeito à “nave espacial”, esta sugere uma viagem entre o conhecido e o desconhecido. Dessa forma, a metáfora da nave espacial pode muito bem ser um emblema de como a modernidade se desenvolve ao longo do século XX, preanunciando o XXI. Leva consigo a dimensão pessimista introduzida na utopia-nostalgia escondida na modernidade. Foi neste período que a máquina expulsou o maquinista. De acordo com Ianni, a decadência do indivíduo, é uma conotação surpreendente da modernidade em épocas de globalização. A partir das ideias do autor nessa metáfora, identifica-se que a tecnicidade das relações sociais, em todos os níveis, se universaliza, tornando-se relações técnicas, sem muito contato pessoal.
            O autor enfatiza ainda que por trás da metáfora da nave espacial, se esconde a da “torre de babel”. A nave pode ser babélica, pois traz consigo um espaço caótico, tão babélico que os indivíduos, singular e coletivamente, têm dificuldade para compreender que estão extraviados, em decadência, sujeitos à dissolução, visto que no início, tudo estava em ordem na torre de babel, e ao final, tudo se confunde, se individualiza.
            De acordo com Ianni, a babel escondida na nave espacial pode revelar ainda mais claramente o que há de mais trágico na maneira em que se dá a globalização, criando economias desiguais, cidadãos subjugando-se mais imponentes que outros, etc.
            De repente, nessa nave espacial, uma espécie de babel-teatro-mundo, se instala um patético surpreendente e fascinante. Arrasta a uns e outros em uma travessia sem fim, com destino incerto, que corre o risco de seguir pelo infinito.
            Vistas assim, como emblemas da globalização, as metáforas se voltam traços fundamentais das configurações e dos movimentos da sociedade global. Para o autor, talvez se possa dizer que as metáforas produzidas nos horizontes da globalização entram em diálogo umas com as outras para explicar o real sentido da globalização nos dias contemporâneos. Afirma-se ainda, que a sociedade global é o novo objeto de estudo das ciências sociais.
            E finalmente, conclui o autor, com duas ideias-conceitos centrais da globalização, evidenciados a seguir: “A globalização pode ser definida como a intensificação das relações sociais em escala mundial que ligam localidades distantes de tal maneira que os acontecimentos de cada lugar são modelados por eventos que ocorrem a muitas milhas de distancia e vice-versa”. Assim, a transformação local é tanto uma parte da globalização quanto a extensão lateral das conexões sociais por meio do tempo e do espaço. O segundo conceito-chave de globalização evidencia que “a globalização se refere a todos os processo por meio dos quais os povos do mundo são incorporados a uma única sociedade mundial, a sociedade global. Globalismo é uma das forças que atuam no desenvolvimento da globalização”. (IANNI, 1996).
            Já no texto de Guiddens, o autor afirma que a modernidade é intrinsecamente globalizadora. Para este, a mundialização se refere principalmente ao processo de alargamento dos métodos de conexão entre diferentes contextos sociais ou regionais que se convertem em uma rede ao longo de toda a superfície da terra.
            Paradoxalmente ao autor Ianni, Guiddens afirma que a mundialização pode, portanto, definir-se como a intensificação das relações sociais em todo o mundo, de tal maneira que os acontecimentos locais estão configurados por acontecimentos que ocorrem a muitos quilômetros de distância ou vice-versa. Assim, a transformação local é parte da mundialização e da extensão lateral das conexões através do tempo e do espaço.
            O autor menciona ainda que ao mesmo tempo que as relações sociais se estendem lateralmente, e como parte do mesmo processo, pode-se observar a intensificação das pressões que reivindicam a autonomia local e a identidade cultural regional, já que a mundialização é também a influencias de processos desiguais de desenvolvimento.
            Guiddens cita ainda uma possível divisão do sistema mundial moderno, dividindo-se em três componentes: o núcleo, a semiperiferia e a periferia, ainda que o lugar em que cada um deles se situa varia com o tempo. Ao final do século XX, quando praticamente se tem desaparecido o colonialismo em sua forma original, a economia capitalista mundial continua implicando diretamente os enormes desequilíbrios existentes entre o núcleo, a semiperiferia e a periferia.
            Desta maneira, Guiddens universaliza quatro dimensões da globalização, sendo: Economia capitalista mundial; Sistema de estado nacional; Ordem militar mundial; e Divisão Internacional do Trabalho. Estas dimensões estão diretamente ligadas ao desenvolvimento industrial do planeta iniciado a partir do final do século XX.
            O autor enfatiza que uma das principais características das implicações globalizantes da industrialização é a difusão mundial da maquinaria tecnológica. O impacto do industrialismo não está simplesmente limitado à esfera da produção, mas afeta muitos aspectos da vida cotidiana e exerce também uma decisiva influencia sobre o caráter genérico da interação humana com o entorno material.
            Finalmente Guiddens conclui: as tecnologias mecanizadas da comunicação tem influenciado profundamente em todos os aspectos da mundialização desde a introdução da imprensa na Europa, e forma uma elemento essencial de reflexão da modernidade e das descontinuidades que tem arrancado o mundo moderno do tradicional. (GUIDDENS, 1990).
            Quando se trata de Santos, ao abordar sobre o tema globalização, este relata que estamos frente a um fenômeno multifacético, de dimensões econômicas, sociais, políticas, culturais, religiosas e jurídicas, relacionadas entre si de modo completo, pois para este, a globalização é um vasto e intenso campo de conflitos entre grupos sociais, estados e interesses hegemônicos por um lado, e grupos sociais, estados e interesses subalternos por outro.
            Santos enumera alguns tipos de globalização, como:
A globalização econômica e o neoliberalismo – onde as economias nacionais devem abrir-se ao mercado mundial e os preços domésticos devem adequar-se forçosamente aos preços internacionais. A globalização econômica é sustentada pelo consenso econômico neoliberal, cujas três principais inovações institucionais são: as restrições drásticas à regulação estatal da economia; os novos direitos de propriedade internacional para investimentos estrangeiros, invenções e criações suscetíveis de entrar dentro da regulação da propriedade intelectual; a subordinação dos estados nacionais às agencias multilaterais, tais como o Banco Mundial do Comércio, o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial do comércio.
A globalização social e as desigualdades – onde o sistema mundial tem sido sempre estruturado como um sistema de classes, onde hoje está emergindo uma classe capitalista transnacional. Seu campo de reprodução social é o globo, o qual sobrepassa facilmente as organizações nacionais de trabalhadores, criando sociedades economicamente desiguais. No campo da globalização social, o consenso liberal diz que o crescimento e a estabilidade econômica se fundamentam na redução dos custos salariais.
A globalização política e o estado-nação – o estado-nação parece haver perdido seu centralismo tradicional como unidade privilegiada de iniciativa econômica, social e política. A intensificação de interações que transcendem as fronteiras e as práticas transnacionais afetam a capacidade do estado-nação para conduzir ou controlar o fluxo de pessoas, de bens, de capitais ou de ideias, tal como fez no passado.
Santos afirma que outro tema importante nas análises das dimensões políticas da globalização é o papel crescente das formas de governo supraestatal.
Há ainda a globalização cultural, que adquiriu uma especial importância com o chamado giro cultural da década de oitenta, fazendo com que todas as culturas pudessem interligar-se umas com as outras, de certa forma, perdendo-se parte da identidade regional de cada país.
O autor ainda coloca no texto duas formas de globalização, sendo a primeira conhecida como “localismo globalizado”. Este se define como o processo pelo qual um determinado fenômeno local é globalizado com êxito. A segunda forma de globalização se chama “globalismo localizado”. Se traduz no impacto específico nas condições locais, produzido pelas práticas transnacionais que se desprendem dos localismos globalizados.
Finalmente, Santos conclui, mostrando-nos os graus de intensidade da globalização, primeiramente conceituando-a como sendo o conjunto de relações sociais que se traduzem na intensificação das interações transnacionais globais. Partindo daí, o autor propor dois níveis da mundialização: “globalização de alta intensidade”, que é aplicada aos processos rápidos, intensos e relativamente monocasual de globalização, tende a dominar naquelas situações em que os intercâmbios aparecem muito desiguais e as diferenças de poder são grandes. E “globalização de baixa intensidade”, que tende a dominar naquelas situações onde os intercâmbios são menos desiguais, quando as diferenças de poder entre países, interesses ou práticas situadas detrás de conceitos alternativos de globalização são pequenos. SANTOS (2003).
Como visto nos textos estudados, cada autor tem seu ponto de vista sobre o tema globalização, porém, ambos sempre convergem para um ponto comum, conceituando-a de formas bem semelhantes.

REFERÊNCIAS
GIDDENS, Anthony. Consecuencias de la modernidad. Alianza Editorial, 1993.
IANNI, Octavio. La sociedad global. s/d
SANTOS, Boaventura de Sousa. La caída del angelus novus: ensayos para una nueva teoría social y una nueva practica politica. s/d.


Autor: Ligiéria Alves dos Santos

4 comentários:

  1. Legal seu texto, Ligiéria!
    Pensando na internet, tem um autor que gosto muito, pois ele se refere às Tecnologias da Informação e Comunicação. O nome dele é Manuel Castells.
    Abraços.

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  2. Muito bom o texto, Ligiéria.
    Além do Manuel Castells que o Mário citou acima, tem um que se chama Karl Polanyi e outro, David Harvey. Nesses dois há uma crítica ao termo e as consequências do processo globalizatório, além do próprio Milton Santos.
    Bem, Milton fala daquela coisa da mudança de paradigma da sociedade atual, em que agora temos um motor único, o dinheiro. Este fragmenta os territórios, lugar de vida do homem.
    Polanyi, fala da grande transformação, aliás, esse é o nome do seu principal livro. Nele, ele parte das revoluções liberais para chegar até aquilo que era o mundo dele, década de 1940, em que a sociedade de se rendia ao mercado. Essa era a maior transformação. Apesar de ser de um tempo diferente, parece que ele teve um pensamento único ao do Milton, o dinheiro começa a dominar a vida da sociedade.
    Aí vem Harvey, particularmente é dos que mais gosto. Pois sua análise da globalização começa dizendo que este termo já é uma invenção, já que processos como os associados a isso que chamamos de globalização já tem uma história longa no sistema capitalista, mas que só foi recentemente utilizado para nomear tais processos com vistas a fazer assimilar pelo mundo a fora que esses processos são homogeneizantes, o que pra ele é uma falácia. Daí, ele parte para o que ele chama de Desenvolvimento Geograficamente desigual do modo produção, em que, na verdade, o capitalismo não se faz de forma homogênea como o termo globalização faz crer, junto com seus idealizadores, mas sim de maneira seletiva.
    Engraçado é que na análise desses três textos que tu trouxeste, dá para perceber a crítica aos processos da globalização, principalmente em Ianni, que o faz a partir da sua concepção das metáforas. Assim como Harvey faz a partir dessa falácia. Ou que, o mesmo que Giddens faz em torno do que ele chama de 'consequequências da modernidade', que ele traz as características que esta tem, como por exemplo, a confiança nos sistemas, ele carrega os traços que nos atemos no sistema global, e que para ele é passível de crítica.
    De fato, suas considerações sobre os autores estão muito boas, elucidadoras para quem estuda o tema, e enriquecedora para quem almeja isso.
    Um abraço
    Sávio José

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  3. Obrigado pelas considerações realizadas acima Sávio. De fato, Castells, Polanyi, Harvey e Milton Santos são autores renomados quando se trata de globalização e modernidade. Aqui só levei em consideração Ianni, Guidens e Santos pelo fato de serem os autores que mais tenho lido nos últimos meses. Para todo bom geógrafo, o tema globalização é alvo de estudos diários, já que a sociedade vem se transformando constantemente ao longo dos anos, e esse fenômeno tem grande parcela de contribuição para as mudanças ocorridas desde o início da revolução industrial até o momento presente.
    Um abraço,
    Ligiéria Alves

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  4. achei legal o texto, mas eu não gosto de você, porque meu professor pegou esse texto como base para uma lição, então logo, na terça-feira vou ter que entregar a lição, eu podia estar curtindo meu feriado aqui mas não, estou fazendo lição -;

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